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terça-feira, 8 de novembro de 2011

GARRINCHA


Nos dias de hoje, passar para os mais jovens a informação de que Garrincha era conhecido como “alegria do povo” pode deixar a falsa impressão de que aquela era uma denominação simplista, mas isto é ledo engano.

Quando se cunhou esta expressão para marcar a passagem pelo futebol de uma de suas maiores lendas, o que se procurava frisar à época, é que ali estava alguém que através da sua arte, levava às multidões sofridas (éramos um país semi rural) tudo o que eles precisavam para se sentirem grandes, tirarem dos ombros o peso e a pecha de terceiromundistas, se inserirem no universo dos grandes e dizerem com todo o orgulho que possuíam que ‘o Brasil era o maior do mundo’, pelo menos naquele esporte já tão popular em tantos países.

Garrincha foi o legítimo representante do futebol-arte brasileiro, com seu estilo original de jogar, com seus dribles abusados e com suas jogadas divertidamente geniais. Nascido Manoel Francisco dos Santos, Mané Garrincha pertencia a uma família pobre de 15 irmãos. O apelido Garrincha veio de um tipo de pássaro, comum na região serrana, que Mané gostava de caçar com seu bodoque.


Garrincha - o homem que humilhava_I
Sua inserção no futebol foi lendária como a sua própria existência. Desde menino, nos times de futebol da cidade natal, Pau Grande, na Serra de Petrópolis, sempre teve seu desejo de treinar embargado. Nunca lhe era dada a chance de mostrar o que sabia pois, além da sua pouca idade, o técnico do time da fábrica local temia expor o garoto aos fortes zagueiros dos times adversários.


Cansado desta situação, Mané registrou-se no time Serrano, da cidade vizinha de Petrópolis e jogou durante quase um ano. Depois disso, o tal técnico da fábrica da sua cidade, Carlos Pinto, decidiu dar uma chance ao Mané e, com sua entrada na ponta direita, o time local cresceu.

Depois de algum tempo, Garrincha foi tentar a sorte em algum clube da capital. Procurou o Flamengo, o Fluminense e o Vasco, mas com suas pernas tortas, não lhe deram atenção.


Garrincha-o homem que humilhava_II
Desiludido, acabou sendo convidado para fazer um teste no Botafogo e encantou de cara. Nilton Santos, lateral esquerdo da equipe, ao levar dois dribles desconcertantes daquele garoto franzino, tratou de correr nos dirigentes e pedir sua contratação, pois preferia o jovem abusado jogando ao seu lado do que contra. Garrincha fez parte do melhor time do Botafogo de todos os tempos, que contava com Zagalo, Didi, Amarildo e o próprio Nilton Santos, entre outros. Sua melhor jogada era o drible para a direita, o arranque e o cruzamento para a área. Mesmo com uma diferença de 6 cm que separava seus joelhos, sempre levava vantagem sobre o marcador.

Em 1962, quando começou o romance com a cantora Elza Soares, Garrincha já tinha sete filhas com Nair, sua mulher; um casal de filhos com Iraci, sua amante e um filho sueco concebido em junho de 1959. Além destes, teve uma oitava filha com Nair, um filho com Elza e mais uma filha com Vanderléa, sua última mulher, totalizando 13 filhos. Após a contusão de Pelé na Copa disputada no Chile, Garrincha chamou para si a responsabilidade e assumiu a condição de líder do time. Sua participação foi tão importante que, expulso contra o próprio Chile na semifinal por revidar chutes e cotoveladas, teve o pedido para que jogasse a final feito por aclamação. Ninguém queria aquela decisão de Copa sem a sua futura lenda. Jogou, venceu e viu o jornal ‘The Times’ de Londres estampar a manchete da vitória com as seguintes palavras: “O MAIOR JOGADOR DO MUNDO NÃO É PELÉ: É GARRINCHA”.

Jogou 60 partidas pela seleção brasileira e encantou a todos em três Copas do Mundo: da Suécia (1958) e do Chile (1962), das quais o Brasil foi campeão, e da Inglaterra (1966), esta última já em declínio técnico mas ainda assim mostrando o que podia ainda fazer em campo. Com Garrincha, o Brasil obteve 52 vitórias e sete empates.


Garrincha - o homem que humilhava_III

No final da carreira, jogou também no Corinthians, no Flamengo, no Olaria e em outros times brasileiros e estrangeiros. Morreu em decorrência da cirrose hepática, em 1983.

Eternamente admirado, foi homenageado com o poema "O Anjo de Pernas Tortas", de Vinicius de Moraes, o documentário "Garrincha, Alegria do Povo", de Joaquim Pedro de Andrade, a biografia "Estrela Solitária", de Ruy Castro, e os versos de Carlos Drummond de Andrade: "Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios.(...)".

Entre 1963, quando o seu futebol começa a sofrer por causa de uma artrose no joelho, e 1983, quando morre em conseqüência do alcoolismo, Garrincha enfrenta uma série de episódios trágicos: tentativas de suicídio, acidentes de automóvel e dezenas de internações por alcoolismo. Mas ficou o mito, a lenda e a história que ele construiu, indelével, inafastável, indissociável do que existiu de melhor na história do futebol.




GarrinchaXPelé - relato do jornalista José Antonio Gerheim

No dia 20 de julho de 1971, a famosa seleção da Hungria treinava no fim da tarde, já sob as luzes dos opacos refletores do antigo estádio de General Severiano.Os húngaros vieram ao Rio para enfrentar a Seleção Brasileira, continuando a série de amistosos que fizeram parte da despedida de Pelé da Seleção, do Santos e do futebot brasileiro, antes de se transferir para o Cosmos de Nova York. A escolha do campo do Botafogo pelos húngaros - podiam ter ido ao Maracanã -, porém, não foi por acaso. Ao contrário eles fizeram questão de pisar no mesmo gramado onde treinava Mané Garrincha, para eles o maior fenômeno, o maior jogador da história do futebol.

A mando de meu primeiro editor, João Máximo, do extinto Correiro da Manhã, tive o privilégio de entrevistar o craque e ídolo da seleção húngara de 1966, que havia derrotado o Brasil por 3 a 1 na Copa da Inglaterra e presenciado o último jogo de Mané com a camisa verde e amarela, Bene, autor de um dos gols e o chefe da delegação, ministro dos Esportes da Hungria, Gustav Sebes, que era o técnico da espetacular seleção húngara de 1954, espantosamente derrotada na final da Copa da Suíça, por 3 a 2, pela Alemanha.

Na reportagem, publicada na edição do dia seguinte do referido jornal sob o título "Bene: Garrincha melhor do que Pelé” e que pode ser encontrada no arquivo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, traz entre outras as declarações que se seguem:

"Pelé não pode dizer que seja reconhecido unanimemente como o melhor jogador de futebol que o mundo já viu. Alguém discorda desta opinião e este alguém merece respeito, por ser um dos melhores jogadores da seleção da Hungria - o atacante Bene. Para ele, Pelé e Puskas são dois dos maiores jogadores de todos os tempos, mas existiu um que superou a ambos: Mané Garrincha. Bene também considera a Seleção Brasileira de 1958 superior a de 70, só comparável à da Hungria de 1954.”



Em outro trecho da reportagem, dizendo não poder comparar a seleção húngara de 71 com a de 1954, o Ministro Sebes declarou... “...igual àquela (a seleção húngara de 54) só a brasileira de 1958, que contava com os fora de série, Garrincha, Didi e Pelé. Acho mesmo a seleção brasileira de 58, superior a de 70.

Adaptado de texto - Fonte, UOL Educação



Três gerações no jogo da gratidão em 1973 no Maraca: Garrincha, Paulo Cesar Lima (PC Caju) e Jairzinho - só o Botafogo pôde.




Entre duas lendas, o mito - Só o Botafogo teve

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

MARINHO CHAGAS

Texto adaptado de reportagem do site www.trip.com.br


“D-E-S-T-R-U-I-U tudo! Chiquinho, lateral esquerdo craque, craque, craque do Riachuelo, receba as nossas congratulações! É seu o troféu Motoradio de melhor jogador em campo, por unanimidade de votos!”, berrava Roberto Machado na cabine da rádio Nordeste AM, em Natal, no fim do empate de 1 a 1 entre o pequeno clube da periferia da capital potiguar e o ABC Futebol Clube. Era outubro de 1969. Quarenta e um anos depois, Francisco Chagas Marinho – o Marinho Chagas, nome que adotou desde aquela data e com o qual entrou para a história do futebol mundial – lembra de todas as frases do anúncio acima, impostando a voz e com o dedo em riste como se fosse o próprio locutor.

A situação atual de Marinho, vivendo de forma humilde e com problemas de saúde, em nada lembra o passado do “touro”, como o chamava o jornalista Franklin Machado, 66, à época comentarista e um dos votantes da eleição que premiava desde o começo dos anos 60 o craque das partidas de futebol profissional no Brasil com um rádio portátil movido a pilhas elétricas. “Marinho era indomável”, sentencia. O Motoradio foi um rito de passagem para o moleque de 17 anos, peladeiro dos campos da Salgadeira e Sete Bocas, periferia à beira do mangue em Natal. Presenteado à mãe quando chegou em casa, o rádio foi o primeiro dos 47 com que foi agraciado Marinho Chagas ao longo de sua carreira.




CHAPÉU EM PELÉ

“Vamos ter cuidado com o galego. Dizem que é craque. E doido”, alertou Pelé ao time do Santos em 1972, na partida contra o Botafogo no Maracanã, em que se anunciava a estreia de Marinho como titular, recém-chegado do Náutico de Recife-PE. “Quando vi Pelé em campo quase chorei.” Admiração, admiração, futebol à parte. No primeiro encontro dos dois “o doido” pôs o estádio abaixo com um chapéu que fez o rei perder o rumo. “No fim da partida ele veio até mim, apertou minha mão e disse: ‘Vê se me respeita, não vem com essa história de chapéu de novo, não, hein!’. Mandei ele tomar n.c. e saí rindo.”



Era o segundo desaforo em menos de uma hora. Pouco antes, com o Botafogo perdendo por um gol, Jairzinho preparou a bola na entrada da área para bater a falta. Deu seis passos para trás e, dois antes de chutar, viu a pelota entrar no ângulo da trave pelos pés de Marinho, que lhe roubou a cobrança.
“Ele ficou muito puto! ‘Porra, que merda é essa!’ Eu falei: ‘Bicho, vai tomar n.c., o gol tá feito!’.” Marinho garantiu o empate.




Até vestir a camisa do Botafogo, Marinho ziguezagueou do Riachuelo para o ABC e o Náutico. Dois fatos marcaram a passagem pelo clube pernambucano. No fim de uma série de amistosos no Caribe, surpreendeu-lhe a aclamação de um rastafári que cantou no intervalo de uma partida no estádio de Kingston, Jamaica. No vestiário, Marinho recebeu, além de um abraço, uma proposta de escambo de Bob Marley, o tal cantor: três discos em troca da camiseta que vestiu na partida. Não demorou a ser contratado pelo Botafogo, o "time destino" até os anos 70 (até 1974 mais precisamente), ou seja, era para cá que vinham várias das promessas que despontavem nos rincões do futebol brasileiro, juntando-se à prata da casa.

Marinho badalando no Rio, e com o poder político da época.

O Rio foi tanto a consagração quanto a perdição de Marinho Chagas. Ganhando dinheiro como nunca, fez jus ao alerta de Pelé aos colegas de elenco de que “o galego é doido”. Impulsivo e vaidoso, não refugava os entreveros. Já conhecido pelo apelido que se aferrou à imagem, Bruxa Loura, alimentava a fama de mulherengo nas areias de Copacabana, que frequentava paramentado com roupas coloridas, uma faixa no cabelo e colares, as portas do Karman Guia abertas, no banco ficavam as caixas de som de uma radiola Philips que tocava os discos anos antes presenteados por Bob Marley. “Chovia mulher.”

No gramado, Marinho permanecia incansável, como recorda João Moreira Salles, documentarista e botafoguense ilustre: “Eu era pequeno, então me lembro de um gigante com cabelos de viking que parecia ser uma força da natureza. Era meio improvável, um lateral esquerdo que era destro. Tinha uma garra que depois eu viria a chamar de argentina. Quando ele entrava em campo, a gente não tinha medo de ninguém. Podia até perder, mas nunca entregar”.

Ao mesmo tempo em que consolidava a posição hoje conhecida como ala esquerda, Marinho perdia pouco a pouco o controle sobre as finanças: “Gastei demais, demais...”. A metrossexualidade de Cristiano Ronaldo e o descontrole de Edmundo, o Animal, foram prenunciados por Marinho. Craque, habilidoso, revolucionário, mas emocionalmente instável. “Marinho foi um fenômeno como ala. Mas uma criança como profissional”, justifica o jornalista Juca Kfouri, entusiasta do jogador que, apesar dos percalços anunciados pelos excessos fora de campo, chegou à seleção brasileira em 1973 e seguiu até a Copa do Mundo do ano seguinte.

Um ano depois da Copa, transferido para o Fluminense, onde permaneceu até 1979, Marinho pôs a paciência do cartola Francisco Horta no limite. Foi dele a ideia de levar pandeiros, chocalhos e tam-tans para a concentração. Virou hábito. Não bastasse o barulho, na disputa do torneio Teresa Herrera, na Europa, em 1977, ia ao limite do bom senso nas cobranças de pênalti em que ensaiava o que hoje se chama “paradinha”. “Mas eu não parava. Eu girava na frente do goleiro, 360°. Quando eu chutava pra valer ele já estava no chão.” Do banco, Horta ameaçava prendê-lo no hotel se repetisse a malandragem. Ele a repetiu por três vezes durante a viagem. Marcou em todas elas.





ELE NÃO USA BLACK-TIE

No fim do campeonato no qual o Fluminense sagrou-se campeão vencendo em Corunha o Dukla Paha, o time carioca embarcou para mais dois amistosos na França. De Paris a Nice, Marinho viajou num Mercedes-Benz preto, conversível, com bancos de couro, alugado, para uma festa de gala em homenagem ao time carioca, dali a dois dias, num castelo da cidade litorânea francesa. “Foi a primeira vez que usei black tie. Coisa fina. Muito artista, empresário e político no castelo. Enchi a cara e parti para a guerra. No meio da festa me apontaram a mulher mais bonita da noite e, quando me disseram quem era ela, não pensei duas vezes. Cheguei dançando, com uma taça de champanhe na mão, dei uma encoxada, encostei o pau devagar, esperando que ela pulasse fora. Mas ela riu. E, quando ela riu, eu tremi na base. Era demais pra mim; não tinha cacife pra comer uma princesa, jamais.” A mulher em questão era Grace Kelly, então princesa de Mônaco. Horta confirma o relato.

Hoje, morando novamente em Natal, financeira e fisicamente derrotado, pai de 13 filhos, cinco dos quais em países onde jogou (Alemanha e EUA) e com quem pouco mantém contato, enfrentando o alcoolismo, o ex-ala esquerdo não guarda vestígios da beleza e da forma física que possuiu na juventude. Há anos comenta-se à boca miúda uma ajuda de custo enviada por Platini, da França, fruto da amizade estreitada no Cosmos. “Já aconteceu, mas não quero falar sobre isso”, Marinho desconversa para em seguida arrematar uma volta por cima: “A Copa de 2014 vai ser a minha ressurreição. Quero escrever minha biografia até lá”, diz, com um rasgo de confiança que quase lembra o touro, o doido que foi em campo.

sábado, 15 de janeiro de 2011

DÉ, O ARANHA


Um dos jogadores mais irreverentes da história do futebol, Dé o Aranha era também um craque, que se não chegou ao ápice na seleção brasileira, brilhou nos times por onde passou. E ainda se lhe dê o crédito de justificar a ausência na amarelina, por ser ele contemporâneo de gente do quilate de P.C.Caju, Rivelino (é mole?), Zico e algumas outras feras.

Dé foi tão carismático que até as histórias hilárias que patrocinou às vezes se confundem com lenda. Em seu blog Que fim levou, Milton Neves lembra em relação ao bom humor deste jogador, do dia em que ele apanhou uma pedra de gelo com o pessoal da preparação física, à beira do gramado, e ao ver uma jogada chegar à área adversária, atirou a mesma na bola, com a clara intenção de desviá-la do zagueiro adversário. Ato contínuo, pegou a redonda, driblou o goleiro e fez o gol. Já Michel Laurence nos traz a mesma história com enredo e desfecho totalmente diferentes. Segundo esta última publicação, Dé, que pegara duas pedras de gelo na bolsa do massagista adversário no momento da marcação de um pênalti marôto contra o seu time, esperou o adversário correr para a bola e neste momento, acertou a redonda com uma das pedras, desviando a mesma da marca do pênalti e naturalmente desfocando também o jogador que acabou chutando para fora. Descoberto, viu os jogadores do time adversário tentarem denunciá-lo mas aí, bastou abrir a boca e mostrar a outra pedra de gêlo, justificando que a pegara para se refrescar.. kkkkk. Esta história contada pelo próprio ex-jogador, em suas hilárias entrevistas, é de matar de rir.

Assim também é muito engraçada, uma outra história contada pelo próprio num programa de rádio, na qual ele narra que, em determinado jogo, antes da cobrança de um escanteio (ele era atacante), enche a mão de areia e espera. Quando a bola começa a descrever aquela curva na direção do Andrada (uma lenda no gol vascaíno), Dé atira-lhe a terra aos olhos, deixa o goleirão tonto e ato contínuo, sai o gol do seu time. Imaginem um quiprocó destes narrado por um cara naturalmente engraçado.

Seu futebol, de primeiríssima, deixou saudades. Suas histórias ainda estão por aí. Quem tiver o privilégio de as ouvir que não perca a oportunidade: ao primeiro anúncio de comparecimento do ex-craque para um papo mais descontraído destes que os programas esportivos sempre promovem, assistam/ouçam e vejam como o futebol, além de ser de boa qualidade, nos proporcionava também belas histórias.